Quarta-feira, 27 de Janeiro de 2010

"Morrer não é o Fim"

 

 

 

Foto: Marisa (Batata)

 

 

Este é o título de um livro da Agatha Christie, é um policial muito interessante e embora não tenha nada a ver com este artigo o seu titulo já tem.

 

Morreu o meu Cunhado mais velho, mas para mim e sei que a minha Irmã pensa do mesmo modo, não foi o "fim" mas sim um novo começo.

 

Quando as pessoas ficam doentes ao ponto de ficarem totalmente dependentes de terceiros, de perderem a sua dignidade, isso já não é Viver é apenas resistir pois existe um órgão chamado coração que teima em bater enquanto os outros já quase não funcionam, o próprio cérebro já mal comanda a as ordens da Vida... Ora isto não é viver é apenas um arrastar de uma situação que já não tem volta, apenas espera um fim que tarda em vir...

 

Quanto a mim e isto é uma opinião puramente pessoal e quando o digo sei do que falo pois quando a minha filha esteve em coma, houve um dia em que os médicos quase desistiram, o querer manter as pessoas cá em determinados estados, é apenas para amenizar a consciência de quem cá está pois para o doente é um suplício, uns porque estão conscientes e dão pela degradação do seu corpo outros estão inconscientes mas ninguém pode provar se sofrem ou não mas se apenas vegetam, mantê-los presos cá, para quê?!

 

Não podemos perder aquilo que já perdemos...

 

Ele era um homem lindo, com o cabelo branco mais bonito que já vi e uns belos olhos azuis, não eram do azul normal, eram um azul diferente, não sei explicar...

 

Era enérgico, vivo e teimoso...

 

Era Inglês e por isso andou a aprender Português, mas tal qual um puto, escondia os livros para não ter de fazer os trabalhos de "casa" e sorria com ar matreiro enquanto dizia num português com sotaque.

 

- Não sei onde estão, Salomei....

 

A minha irmã sorria e dava-lhe no toutiço.

 

Como era um dos Directores da Rover em Portugal foi ele quem me arranjou o meu 1º Mini-Moke, confesso que na altura tive que fazer um pouco de chantagem, pois em 198? os Mini-Mokes iam todos para os Rent-a-Car.

 

Como eu estava a ver que não consegui nada e os poucos que tinham chegado já estavam prontos para ir para o Algarve e Funchal eu disse-lhe:

 

- Está bem, não me arranjas um Moke vou comprar um Mehari....

 

Bem... ele até saltou do sofá! Ficou verde, azul e disse muito alto:

 

- Isso não, Isso é um perigo é tudo plástico, não presta para nada... Vou ver o que consigo fazer!

 

Meu dito meu feito mais ao menos uma semana depois ligou-me e eu foi buscar o meu 1º Mokinhas, lindo todo preto e com 18km!!!!!!

 

Homens!!!!!

 

Ele entendia o Português e até falava, mas se falassem com ele em Inglês... Dava-lhe mais jeito,,,lollll

 

Sempre achei graça quando ele dizia.

 

- Hello Batata!

 

Aquele Batata em português com sotaque ficava mesmo divertido...

 

Ambos gostávamos de gin tónico e ele sabia que era a minha bebida preferida no verão quando estava na água. Assim que eu me enfiava na água, em 10mn lá vinha ele com o meu gin tónico para colocar na borda da piscina.

 

Quando eles casaram, foi o casamento divertidíssimo, na Casa da Guia em Cascais eu e o meu sobrinho/afilhado fomos padrinhos  de casamento da minha irmã e a minha sobrinha Inês + ? foram padrinhos dele.

 

Ele aguentou um fim-de-semana das "bruxas"... Só estava espantado com o nosso poder de beber e falar... Foi um FDS muito giro, dormimos as 4 manas debaixo do mesmo tecto.

 

Era teimoso como tudo e em muita coisa muito Inglês! Mas foi com uma facilidade espantosa com que passou de uma família pequena, a dele era bem pequenina e tipicamente Inglesa, para abraçar uma família Portuguesa, mas não uma família qualquer, a nossa família!!!

 

A nossa família além de ser enorme tem particularidades diversas, somos, alegres, festeiros, faladores, divertidos e principalmente o nosso lema é "Vive e deixa Viver"!, somos tipo família Italiana, sempre cheia de crianças e risos, claro que quando choramos choramos com dor e quando um precisa somos um todo!

 

Enfim teve uma Vida preenchida, fez coisas que gostava viajar, trabalhou, como todos nós teve desgostos, mas no final o que interessa é que agora já pode novamente guiar o seu Rover, colocar os pés na areia, beber o seu gin, comer o seu queijo, ver o seu futebol e principalmente ser livre, sem dores, limitações e fazer o que lhe der na real gana!

 

Sim, por que Morrer não é o Fim.... Nunca se morre no coração das pessoas que gostam de nós!

 

Jim um grande beijo, foi muito bom que tivesses feito parte da nossa família!

 

 

 

Luar   (Batata)

 

 

 

Levanta-me bem alto, para que eu possa ver Lisboa de cima, sem as obras, a a sujidade, a falta de amor dos Homens.

 

Levanta-me bem alto para que a minha Lisboa volte a ser a Lisboa das canções, das crianças que brincam em liberdade, dos bonitos telhados, a cidade que tem a luz mais bonita do Mundo, a Lisboa dos poetas e amantes...

 

 

Imagem e texo: Marisa (Batata)

 

 

 

 

 

: Em Paz
Bichanado por: Luar às 15:13
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5 comentários:
De tron a 2 de Fevereiro de 2010 às 18:17
Os meus pêsames minha amiga, mas como disseram há uns anos os amigos dum inglês de origem indiana e persa "Não apenas tu, só os bons morrem novos" (tradução meio livre) e uns anos antes este mesmo inglês de seu nome Farroohk Bulsara disse numa das suas músicas "Mas uma coisa é certa, Quando olho e percebo Eu ainda te amo".
A música donde extraí este verso é These are the days of our lives dos Queen e o video está no meu blog e há várias traduções no youtube.
E amiga se o teu cunhado só tinha o coração a funcionar e o cerbero já mal funcionava, pensa que ele deixou de sofrer, em Setembro faz 3 anos que perdi a minha avó ao fim de alguns meses de agonia lenta e foi dificil ver, e como sabes sou utente do IPO-Lx e vejo lá luta, sofrimento, vitória e derrota e vejo alguns casos que as vezes mais vale acabar para a alma descansar.
Beijos
De Luar a 5 de Fevereiro de 2010 às 12:36
Tron , concordo plenamente, acho que deixar alguém sofrer inutilmente é quase um crime, é como se estivessem a ser castigados por alguma coisa de errado que fizera, enquanto apenas tiveram a pouca sorte de ser apanhados pelas rodas de alguma doença implacável e que lhes vai sugando a vida muito lentamente....

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