Se fosse viva, hoje a minha mãe faria 95 anos, teria 13 netos e 20 bisnetos a caminho de 21, somos uma família unida, eu e as minhas irmãs, ajudamo-nos mutuamente e quando uma tem um problema resolvemo-lo em conjunto o que o torna logo mais ligeiro, os filhos de uma são como filhos de todas, de mim menos, pois tenho 20 anos de diferença delas, os meus sobrinhos, alguns, por serem mais próximos de mim em idade temos muita cumplicidade, quase tanta como a que eles têm com os irmãos e os primos e mais uma vez os problemas graves são resolvidos em família!
Pode parecer uma tonteria, mas se virmos bem não é, pois quem melhor que os que melhor nos conhecem, os que nos viram crescer, os que nos acompanharam nos bons e maus momentos, para nos poderem dar um conforto, um apoio, uma palavra amiga, um ombro para chora ou até mesmo um raspanete....
Claro que temos Amigos, bons amigos, alguns já fazem parte da família.....
Quando penso na minha/nossa mãe, tenho pena, pois infelizmente ela nunca conseguiu compreender isto que vos expliquei agora, por algum motivo que nunca saberemos, tudo nela era um caus, tinha ciúmes das filhas umas com as outras, das filhas com ela, dos netos, incitava um mal estar horrível entre os meus sobrinhos, mesmo crianças, de tudo desconfiava, dizia e fazia as maiores barbaridades, como se de verdades se tratassem; a mim humilhou-me em público tanta vez, fez, me tanta maldade, disse-me coisas tão horrendas que cheguei a duvidar que fosse realmente minha mãe!
Marcou-me para a vida, se o tivesse feito com um ferro em brasa de marcar gado, não o teria feito melhor, deixou-me um M bem gravado no corpo e na alma!
Eu tento esquecer, juro que tento mas não consigo, não existe Psiquiatra que me convença, claro que melhorei ao fim de 12 de trabalho duro com Psiquiatra e Psicólogo, melhorei, pelo menos já falo no assunto sem chorar e sem pensar que a culpa era minha! Sim, durante anos e anos achei que a culpa era minha, o divórcio fora culpa minha, o ela não ter voltado a casar fora culpa minha, até mesmo o cancro fora culpa minha, pois desejei tanta vez que ela morresse...
Mas a realidade é que o meu nome, era o dela, e quando ela o escrevia colocava-lhe II na frente, um dia disse-lhe:
- Mãe, isso assim parece nome de barco!"
Ela poderia ter sido feliz 3 vezes na vida, teve pelo menos 3 Homens fabulosos apaixonados por ela e estragou tudo, Quando terminou tudo com o meu Pai, ela impediu-me de o ver, passar férias com ele, das poucas vezes que ele vinha a Lisboa, lá ia eu tipo cachorro, acompanhada por uma das minhas irmãs para poder estar com meu Pai e mesmo assim havia fita! Ela não tinha o direito de me dizer o que dizia sobre o meu Pai, de me afastar dele, pois ele morre quando eu tinha 15 anos e eu mal o conhecia, ela privou-me do meu passado, não só com o Pai.
Com a mania de mudar de casa e de me mudar de Colégios eu não tenho bases, não tenho norte, não sei quem sou, ela deitou tudo fora, os livros, as fotos, os cadernos, tudo o que não tivesse a ver com viagem feitas com ela, excepto algumas fotos por já estarem coladas num álbum, cartas de namorados me escrevera, amigas de Colégios, a minha Pen Pal, os livros dos Cursos que tirei de pintura em tecido, tudo, só não me deitou a mim pela janela, mas tentou....
Por isso naquele fim de manhã no hospital de Santa Maria, quando me disseram bruscamente que ela tinha morrido, claro que primeiro fiquei chocada, mas imediatamente a seguir veio o alívio, a paz, o pensar que finalmente tudo tinha acabado, que ela já não me podia magoar mais... Enganei-me um bocado, pois mesmo do outro lado ainda me tem dado cabo da cabeça!!
Eu lamento Mãe, acredito que tenha sido infeliz, mas foi porque assim o quis, foi a Mãe que fez a sua própria infelicidade é tal e qual como o disse uma vez, "- Tive tudo na Vida, beleza, felicidade, família perfeita e saudável, homens que me amaram, dinheiro, e perdi tudo, deixei que me escorresse entre os dedos como areia da praia... E só eu só culpada, mais ninguém!"
Mas não tinha o direito de infernizar a Vida daqueles que a rodeavam, principalmente das suas filhas, não, não tinha o direito de fazer, dizer usar-nos como se fossemos bonecas de pano que quando se zangava atirava pelos os ares, ao chão ou de encotra móveis...
Nem uma única vez senti saudade, falta dela para lhe dar um beijo ou abraço, nem me recordo dela durante uma parte da minha Vida e a que recordo é quase toda tão má que mais valia não recordar, foi uma Mulher que não sabia ser Mãe!
Mãe, um dia perguntei-lhe o porquê de me ter feito o que fez, de me ter chamado o que chamou, enfim o porquê de tudo, eu apenas queria respostas, era uma Mulher de 28 anos a pedir respostas a uma de 71, sim já foi no ano em que morreu, lembra-se da resposta que me deu?
Eu lembro-me e muito bem, quase esmaguei a mão da minha filha, que era tão pequenina e nada entendia, a sua resposta foi:
- "Porque sou tua mãe e por isso as coisas são como eu quero e eu mando em ti!"
Talvez por isso eu não consiga esquecer, não consiga perdoar, não tenho um coração e uma Alma tão grande para a perdoar, mas tenho pena de si, muita pena, a mesma pena que se tem quando se vê um bichinho ser morto apenas para nos saciar a gula, esse tipo de pena!!!
Obrigada pela Vida sem chão que me deu, sem chão e por vezes sem paredes, mas mesmo assim saí-me melhor do que aquilo que a mãe esperava, só isso foi para mim uma vitória perante si, o ver que não conseguiu destruir-me completamente....
Adeus mãe!
imagem: retirada da net
Ex.mo Senhor Ministro das Finanças
Victor Lopes da Gama Cerqueira, cidadão eleitor e contribuinte deste País,
com o número de B.I. 8388517, do Arquivo de identificação de Lisboa,
contribuinte n.º152115870 vem por este meio junto de V.Ex.a para lhe fazer
uma proposta:
A minha Esposa, Maria Amélia Pereira Gonçalves Sampaio Cerqueira, foi vítima
de CANCRO DE MAMA em 2004, foi operada em 6 Janeiro com a extracção radical
da mesma.
Por esta "coisinha" sem qualquer importância foi-lhe atribuída uma
incapacidade de 80%, imagine, que deu origem a que a minha Esposa tenha
usufruído de alguns benefícios fiscais.
Assim, e tendo em conta as suas orientações, nomeadamente para a CGA, que
confirmam que para si o CANCRO é uma questão de só menos importância.
Considerando ainda, o facto de V. Ex.ª, coerentemente, querer que para o ano
seja retirado os benefícios fiscais, a qualquer um que ganhe um pouco mais
do que o salário mínimo, venho propor a V. Ex.ª o seguinte:
a) a devolução do CANCRO de MAMA da minha Mulher a V. Ex.ª que, com os meus
cumprimentos o dará à sua Esposa ou Filha.
b) Concomitantemente com esta oferta gostaria que aceitasse para a sua
Esposa ou Filha ainda:
c) os seis (6) tratamentos de quimioterapia.
d) os vinte e oito (28) tratamentos de radioterapia.
e) a angustia e a ansiedade que nós sofremos antes, durante e depois.
f) os exames semestrais (que desperdício Senhor Ministro, terá que orientar
o seu colega da saúde para acabar com este escândalo).
g) ansiedade com que são acompanhados estes exames.
h) A angústia em que vivemos permanentemente.
Em troca de V. Ex.ª ficar para si e para os seus com a doença da minha
Esposa e os nossos sofrimentos eu DEVOLVEREI todos os benefícios fiscais de
que a minha Esposa terá beneficiado, pedindo um empréstimo para o fazer.
Penso sinceramente que é uma proposta justa e com a qual, estou certo, a sua
Esposa ou filha também estarão de acordo.
Grato pela atenção que possa dar a esta proposta, informo V.Ex.a que darei
conhecimento da mesma a Sua Ex.ª o Presidente da República, agradecendo
fervorosamente o apoio que tem dispensado ao seu Governo e a medidas como
esta e também o aumento de impostos aos reformados e outras...
Reservo-me ainda o direito (será que tenho direitos?) de divulgar esta carta
como muito bem entender.
Como V. Ex.ª não acreditará em Deus (por se considerar como tal...) e por
isso dorme em paz, abraçando e beijando os seus, só lhe posso desejar que
Deus lhe perdoe, porque eu não posso (jamais) perdoar-lhe.
Atentamente> 19/Outubro/2007> Victor Lopes da Gama Cerqueira
Eu não conheço a pessoa mas uma amiga e antiga colega conhece, pois o mundo é realmente pequeno.
Acho que com esta carta ele consegue explicar o tantos sentem e não conseguem dizer.
Fazer Leis não é só "dar bitates" convém ver o que acontece a quem elas vão cair em cima....
Luar
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